Em meus
34 anos de vida, aprendi a dar valor ao trabalho desde muito cedo. Aos 12 anos,
mais ou menos, já ajudava meu tio, hoje falecido, em sua oficina. Trabalhava,
assim como ele, na profissão de chapeador. E a vida era fácil!
Na
adolescência, estudei na então Escola Estadual Professor Isaías, onde por força
do trabalho, tive que estudar à noite, pois o INSS me esperava. E lá fiquei por
mais de um ano como estagiário. Mesmo assim, a vida realmente era fácil.
Por
quase três anos, fui balconista em uma farmácia da cidade, quando ainda não era
necessária a presença de um profissional com formação em farmácia. Cuidava
desde a chegada dos medicamentos, sua venda, os trâmites burocráticos, serviços
bancários e limpeza em geral. Mas quer saber, a vida era fácil!
Acreditem,
trabalhei de repórter durante 03 anos em nosso glorioso torneio Romeu Goulart
Jacques, hoje Copa Santiago. Serviço por temporada, mas com dedicação exclusiva.
Não precisa sem dizer que, além do prazer que a ocupação me proporcionava, a
vida era fácil!
Perambulando
por aí, acabei na profissão de Auxiliar de Tecelão em uma fábrica conceituada
na cidade. Os turnos, embora “ilegais”, eram de 10 horas, com apenas 30 minutos
de intervalo. O serviço era duro e a rotina massacrante. Mas mal sabia eu, que
a vida ainda era fácil!
Durante
03 anos, trabalhei como cobrador no transporte coletivo na cidade de Santiago.
Foram os anos mais rentáveis e os mais difíceis de minha vida, pois tive que
abrir mão, por inúmeras vezes, da companhia de meus familiares. Entrei e sai
pela porta da frente, com o apoio dos “patrões“. Queria estudar, voar mais
alto. Afinal, a vida ainda era fácil!
Morei
fora por 01 ano e meio, mas ou menos. Voltei para realizar um sonho, a formação
acadêmica. Foi aí que a vida começou a deixar de ser fácil! Durante o período
de estudos, tive a sorte e a devida oportunidade, de trabalhar com alguém muito
próximo que, até hoje, além dos laços familiares, preservam-se as relações
trabalhistas.
Pois
bem. Formei-me! Casei com a melhor mulher que poderia encontrar e tive a filha
mais linda que poderia imaginar. Toda a minha trajetória trabalhista, de
dificuldades e esforços, só vieram dignificar ainda mais minha nova profissão,
a de psicólogo. Mas estranhamente, a vida acabou ficando, agora, nada fácil!
Descobri
que moro em cidade que conta muito o padrinho, o sobrenome, o status, as
aparências, o dinheiro, ou seja, as coisas mais supérfluas possíveis, embora
sejam, ao mesmo tempo, as mais separatistas que se possa imaginar. Descobri
muitos caciques para poucos indos, muitos coronéis que, ironicamente, passam
despercebidos por parte da população, de sua patente.
Quando
jovem, confesso: queria muito ir embora! Mas era coisa de jovem, por assim
dizer. Por incrível que pareça, nossa Santiago é uma cidade das mais
aconchegantes do interior deste estado. Voltei, fiquei, decepcionei (me)! Não
vejo a hora de ir embora! Não pela cidade em si, mas pelos “meandros” que regem
as administrações locais. Queria uma oportunidade igual. De me fazer conhecer,
mas sem precisar de dinheiro para isso. Estaria você me criticando, dizendo que
eu corra atrás da máquina e me faça conhecer por meu trabalho? Você realmente
não tem noção da desigualdade a que “falo”. Ou então faça parte da minoria (?)
dominante que cresceu em berço de ouro e jamais precisou trabalhar duro na
vida. Quem sabe fez-se valer do sobrenome? Padrinho? Tem certeza? Quem sabe paitrocinado? Têm muitos! Mas bola pra frente. Vê-se que a vida já não é assim tão fácil...
Apenas
sonhei, talvez, não precisar incentivar minha filha a tomar o caminho de muitos
e muitos: a rodoviária... E se for... quiçá, vá junto... sonho! Mas como já
disse por aí: as oportunidades estão aí. Todos os dias elas partem, inúmeras, todas
da estação rodoviária.
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